quinta-feira, 8 de julho de 2010

CATÁLOGO DE CORDEL

CENAS DA VIDA NA RUA
Por Nando Poeta

Pessoal, gente querida
De longe eu cheguei à terra
Morava lá tão distante
Num canto do pé de serra.
Pensando em mudar de vida
Pra ver se a miséria encerra.

Cheguei à cidade grande
Pensando ter meu espaço.
Pensei na minha cachola:
Vou sair do embaraço.
Um teto, comida, escola
Pra não ficar no bagaço.

Já tentei mexer com tudo
Fui servente, moto-boy.
Hoje estou sem o emprego
A vida só se destrói.
Sem a casa e sem salário
A família se corrói.

Não fiquei nenhum minuto
Na vida, paralisado.
Corri a traz do sustento
Na busca de um trocado.
Chovia dificuldades
Pensei voltar por roçado.

Não desisti de São Paulo,
Continuei pelejando.
Fazia sempre um biscaite
As coisas iam apertando.
O dinheiro foi sumindo
E a fome se instalando.

Estava aqui nessa banca,
Ganhando meu ganha pão.
Quando a tropa de soldado
Chegou metendo a mão.
O café, leite e o suco
Derramou-se pelo chão.

Fiquei tão desesperado
Sem saber o que fazer.
Os meninos agora em casa
Não tem mais o que comer.
Nesse futuro incerto
A gente vai é sofrer.

Trabalhei muito na rua,
Fui fazer qualquer oficio.
Flanelinha, camelô
Pra sair do precipício.
Mas um dia fui detido
Por entrar num edifício.

Passei meses na cadeia
A família abandonada.
Resolveu voltar pra terra
E saiu em disparada.
Quando sai da prisão
Fui dormi numa calçada.

Um dia quando dormia
Aqui nessa escadaria.
Um jato de água forte
Numa noite muito fria.
Me deixou todo ensopado
Foi grande a covardia.

Dormindo nesse relento
Em calçada e viaduto.
Vivendo na exclusão
De onde extrair seu fruto.
Revoltado pelo mundo
Virando um homem bruto.

Agora tem holofotes
Para perturbar o sono.
De moradores de rua
Que já vivem em abandono.
Enquanto que os ricaços
Descansa em seu belo trono.

Pra comer fui catar lixo,
Fazendo a refeição.
Disputa com animais
Seja gato, rato, cão.
Matando a fome absurda
Isso é aberração.

Um dia no meio da praça,
Fazendo uma panelada.
De frente a Igreja da Sé
A panela é esvaziada.
Com o chute de um milico
Joga o comer na calçada.

A noite ficou tão triste,
Cada qual procura o chão.
Deitado, todo enrolado
Com a caixa de papelão.
O frio invadia o corpo
Por pequena proteção.

Para o morador de rua,
Não se tem nenhum direito.
Sem teto, emprego, comida
Se vive no desrespeito.
Humilhado, massacrado
Isso doe muito no peito.

Eu quero viver a vida,
Não é pedir um favor.
É um direito que tenho
Por ser um ser de valor.
No país ergo a riqueza
Pois sou um trabalhador.





TIREM AS TROPAS DO HAITI

CORDEL 1º DE MAIO

ASSÉDIO MORAL É CRIME

HOMOSSEXUALIDADE:HISTÓRIA E LUTA




A TURBULÊNCIA ECONÔMICA


MULHERES EM LUTA

MANOEL E CLEONICE: UMA LIÇÃO DE CLASSE


EDUCAÇÃO NÃO É MERCADORIA