quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

LANÇAMENTO DE CORDEL SOBRE O CANGAÇO




Por Aderaldo Luciano

Enganam-se os que imaginam que ao poeta de cordel cabe apenas a delicadeza dos bosques e das fadas, a rigidez lúdica das pelejas, o aproveitamento dos contos tradicionais da oralidade ou o fácil caminho das adaptações dos sucessos literários oficiais. Engano dobrado. Os nossos clássicos, os pioneiros fundaram a tradição política no cordel. Nando Poeta é apenas um sucessor contemporâneo. Com ele, os temas mais atuais, os mais polêmicos, os que necessitam de maior apuro tornaram-se corriqueiros e irrigam toda uma faixa de público ávido por esse tema, militantes que são. Cordéis em defesa dos direitos da mulher, de respeito à diversidade sexual, de reflexão sobre bullying nas escolas ou sobre a saga da consolidação dos direitos dos trabalhadores são a voz do poeta na boca de um narrador engajado ou de um eu-lírico consciente. Agora com estes O cangaço e o Lendário Lampião e A Saga de Jesuíno Brilhante, Nando toma ares de romancista ao contar a história de dois ícones do cangaço nordestino.

LEIA
A saga de Jesuíno Brilhante e O Cangaço e o lendário Lampião,
Os novos cordéis
De Nando Poeta.

Um lançamento da Editora Luzeiro


Assista o Teaser do lançamento de dois clássicos do cangaço em CORDEL de Nando Poeta:
A Saga de Jesuíno Brilhante e O Cangaço e o lendário Lampião.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

MENSAGEM DE NATAL :



Por José Walter Pires

Se pudesse a humanidade
Envolver todo o Universo
De solidariedade
Nesse momento perverso
Por toda parte disperso
De mãos dadas, num abraço,
Comprimido nesse espaço
O mundo, então, mudaria,
Para reinar harmonia
Tudo no mesmo compasso

Se pudesse a humanidade
Execrar o egoísmo
Dar fim à desigualdade
Semear só altruísmo
E praticar o civismo
Dentro da sociedade
Sem nenhuma falsidade
Ao cumprir sua missão
De completo cidadão
Restaria prosperidade

Se pudesse a humanidade
Viver sem a violência
Na sua diversidade
Que se espalha sem clemência
Levando o mundo à falência
Nesse drama social
De macabro ritual
Outro seria o modelo
Pra construir com desvelo
O nosso mundo ideal

Se pudesse a humanidade
Proteger a Natureza
De tanta perversidade
Praticada com crueza
Devastando essa Grandeza
Desde os nossos ancestrais
Aos tempos industriais
A fonte seria eterna
Dessa riqueza materna
Pra podermos viver mais

Se pudesse a humanidade
Redefinir o trajeto
Dentro da realidade
Com base em novo projeto
Traçado pelo arquiteto
Da vontade coletiva
Seria a alternativa
De uma gestão democrática
Exercida pela prática
Da ética coercitiva

Se pudesse a humanidade
Ser fiel a sua crença
Acreditar de verdade
Sem pensar em recompensa
Como sempre foi propensa
Sem uma fé mensageira
A glória é passageira
Para todo ser humano
Dito “bom samaritano”
Mas se nega a vida inteira

Se pudesse a humanidade
No limiar do Natal
Festa da fraternidade
Praticar o ritual
Do perdão essencial
Em qualquer ocasião
Seria a revelação
De verdadeiro Ano Novo
Reunindo todo povo
Em confraternização

Se pudesse a humanidade
Fazer tudo diferente,
Digo com sinceridade
Que não me sinto descrente
Nas mudanças do presente
Boto fé na competência
Do Homem e da Ciência
Sem desprezar o Divino
Para mudar o destino
Melhorando a convivência.

dez/2012

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

VIDA E OBRA DE DOIS GONZAGÃO




Por Nando Poeta


Em 2012 no Brasil tem realizado homenagem a Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.

Nasceu nos primeiros anos do século XX.

Na época no país vivíamos a política do café com leite, o revezamento dos poderes entre São Paulo e Minas Gerais.

O nordeste era a região dominada por coronéis, que surrava e humilhavam os miseráveis do sertão.

Um nordeste que vivia assolado pela seca, que colocava na ceia, a mais cruel das maldades da face da terra, a fome.

Aqui o seu povo viviam no flagelo, sem terra, sem comida, como dizia o poeta, um morto vivo.

Açoitado pelas diferenças sociais, uns fugiram de sua terra e foram buscar guarida por outras bandas, outros insistiram na terra prometida.

Transformando-se em trabalhadores sem terra, em jagunços,vaqueiros, cangaceiros.

No cangaço muitos sertanejos mergulharam até a morte.

Um momento de guerras de chumbo grosso, das pelejas resolvidas na ponta do punhal, do salva-se quem puder.

Foi nessa realidade que nasceu Luis Gonzaga, mais um menino, que nasceu nas entranhas das caatingas, como tantos outros filhos de sertanejos.

Uma origem humilde, e como todo aquele que nasceu em berço cercado de escassez, sofreu e muito, carregou como um burro, muita cangaia.

Alimentando uma paixão por uma linda cabocla, só que filha de um coronel. Como pobre e negro jamais seria do agrado do manda chuva daquela região. Foi enxotado daquelas terras.

Foi para o Exercito, na época um meio de ascensão para o filho do pobre, não fez carreira.

Mas foi na música que o Gonzagão deslanchou e partiu para o Brasil e o mundo.

A sua vida tomou um percurso distinto de sua obra.

Na vida andou muito próximo aos poderosos, pelo sertão afora cantou muito animando o pão e circo dos coronéis, fazendo os seus gingos de campanhas para os dominantes, durante a ditadura militar, bateu muita continência para oficiais que sujaram as mãos de sangue, oprimindo o povo brasileiro.

Já sua obra ganhou outra dimensão.

O seu trabalho artístico teve outro rumo, se apoiou na vida daqueles que habitaram o universo do povo sofrido e retirante do nordeste brasileiro.

Cantou a dor do sertanejo, que sofria com a falta de terra, de água, que eram expulsos de sua região e vagavam em direção a outras regiões longínquas.

Sua música, seja o forró,o baião,fazia denuncias contra a miserabilidade do povo do sertão nordestino, como também apunhalava as classes dominantes e suas práticas.

Como na canção Vozes da Seca, que traz a poesia matuta, como uma expressão de insatisfação contra a falta de políticas públicas para solucionar a problemática da seca.

“Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão
É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage
Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão”


LINK NO YOU TUBE: http://youtu.be/gZ1LuWmuBeo (NÃO É AO VIVO, MAS A EDIÇÃO É INTERESSANTE)


Na “Poesia de Patativa do Assaré” canta o sofrimento dos retirantes fugindo da seca.

.. Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo
Nóis vamo a São Paulo
Viver ou morrer...

... Nóis vamo a São Paulo
Que a coisa tá feia
Por terras alheia
Nós vamos vagar...

... E vende seu burro
.. Pois logo aparece
Feliz fazendeiro
Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem...

.. A seca terrível
Que tudo devora
Ai,lhe bota pra fora
Da terra natal...

.. Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No Norte e no Sul...


Link no you tube: http://youtu.be/r-8rsqTJi-0 (idem)



Na sua voz entoada chegava-se aos quatro contos do mundo o clamor de um povo barbaramente excluído dos direitos sociais e políticos, A seca longe de ser uma descarga divina, era o retrato do abandono das classes dominantes e seus políticos para com a população carente de tudo.

Na canção “Xote ecológico” denuncia a destruição da natureza e o assassinato de Chico Mendes.


“Não posso respirar, não posso mais nadar
A terra está morrendo, não dá mais pra plantar
Se planta não nasce se nasce não dá
Até pinga da boa é difícil de encontrar
Cadê a flor que estava aqui?
Poluição comeu.
E o peixe que é do mar?
Poluição comeu
E o verde onde que está ?
Poluição comeu
Nem o Chico Mendes sobreviveu”


Link no youtube: http://youtu.be/jmqYEOhLpsM


Nesse centenário celebramos a obra de Luis Gonzaga, não esquecendo que contraditoriamente, as suas relações políticas sempre foram muito conservadoras, o lado fraco de um homem que procurou trilhar dois caminhos distintos, revelando sua grande contradição. O verso de Cacá Lopes retrata bem esse momento:

Luiz cantou em campanhas
De políticos governistas,
Criou jingles, trabalhou
Para nacionalistas,
Enquanto o filho assumia
Posição com esquerdistas.

Lua apoiou Jânio Quadros,
Lucas Nogueira Garcês,
Por Dutra, Adhemar de Barros
Tudo quanto pôde fez.
Carlos Lacerda foi outro,
Que do Rei ficou freguês.

Nos salões dos poderes por diversos momentos o LUA emprestou sua voz, para se confraternizar com os algozes do seu povo tão lembrado nas letras de suas canções.

E apesar dessas relações intimas com o poder, na época da ditadura teve canções suas censuradas.

Sabendo dessa limitação na trajetória de Gonzagão não podemos negar o seu trabalho artístico que conseguiu encantar os corações e mentes com suas composições e interpretações que realçavam o cotidiano do povo trabalhador desse imenso país.




domingo, 25 de novembro de 2012

A Caravana do Cordel e Moraes Moreira

PROGRAMAÇÃO

IV ANIVERSÁRIO DA CARAVANA DO CORDEL E I SALÃO DO CORDEL
DATA: 06 07 e 08 de Dezembro/2012
Local: Biblioteca do Memorial da América Latina/SP

Quinta feira 06/12/12

Abertura – As 19:00h.-Show em Homenagem a Gonzagão
João Gomes de Sá
Luiz Wilson
Márcio Dedéu
Zé da Lua – (Bloco do Baião)
Lançamento do livro Vida e obra de Gonzagão de Cacá Lopes
Chico Salles

Sexta Feira 07/12/2012
01 – O Universo do Cordel na Literatura Infanto Juvenil.
10h. Fábio Sombra
Mediador Varneci Nascimento

02 – Ilustração no Cordel: da capa cega à policromia.
14h. Marco Haurélio
15:30h. Lançamento do livro A Cartomante de Antônio Barreto
Mediador Moreira de Acopiara

19:00h. Sarau aberto com as presenças de Costa Senna, Nando Poeta, João Gomes de Sá Moreira de Acopiara, Cleusa Santo entre outros.

Sábado 08/12/2012
Cordel & Cinema.
10h. Aderaldo Luciano
Mediador Nando Poeta

15:00h. Lançamento coletivo
16:00h. Homenagem (Apresentação Aldy Carvalho e Cleusa Santo)
17:00h. Grupo de Teatro Máscaras de Guaranésia – Minas Gerais
18:00h. Sarau (Coordenação Moreira de Acopiara)

Nomes que participarão do sarau:

Cacá Lopes, Aldy Carvalho, Eufra Modesto, Cleusa Santo, Benedita Dellazari, Josué Gonçalves, Luiz Wilson, Pedro Monteiro, Nando Poeta, João Gomes de Sá,Paulo Araújo,Suely Valeriano,Francis Osmar,Zé Walter,Geraldo Maia,Rousi Gonçalves,Costa Senna,Bosco Maciel,Jocélio Amaro e demais  poetas presentes.

20:00h. Grande Show de Encerramento com Moraes Moreira com o Show Moraes Pé de Serra.







Nos dias 6,7 e 8 de Dezembro a partir das 10h, o Memorial da América Latina de São Paulo será o palco de diversas atrações. O Movimento Caravana do Cordel, comemora seu 4˚ aniversário em grande estilo.
Durante os três dias haverá o Salão de exposição com feira de cordel, xilogravura, sarau literomusical e palestras, também contarão com a presença de cordelistas de toda parte do país. O evento se encerra no dia 8 com o show de Moraes Moreira às 20h. A caravana convida todos e todas para comemorarem juntos o seu 4˚ aniversario com muita poesia e cultura.

Cordelistas,xilógrafo,músicos e pesquisadores que já confirmaram a participação no IV Aniversário da Caravana do Cordel:

Chico Salles ,Cristiane Ferreira, Denise Sampaio, Filipe Santos, João Batista de Assis Neto, João Gomes de Sá, Lucineide Vieira ,Josué Gonçalves,Oliveira do Cordel, Suely Valeriano ,Cacá Lopes ,Nando Poeta ,Varneci Nascimento, Luiz Wilson, Marco Haurélio,Pedro Monteiro,Moreira de Acopiara,Abaeté do Cordel,Rousi Gonçalves,Geraldo Maia,Cleuza Santos,Aderaldo Luciano,Fábio Sombra,Gerson Lopes, Zé da Lua,Bloco do Baião, Zé Walter,Francis Osmar,Maria Cecilia, Aldy Carvalho,Eufra Modesto,Benedita Delazarri,Jocélio Amaro
...

Não fique de fora dessa Caravana! Confirme sua participação!




terça-feira, 20 de novembro de 2012

Cordel sobre o ACE dente


Por Nando Poeta

Chamo atenção de você
Trabalhador do país:
Seus direitos trabalhistas
Estão quase por um triz
E os falsos sindicatos
Sem nenhuma diretriz.

Vieram muitos ataques
De governo e patronal
Que esmagando os direitos
Faz crescer o capital
E massacrou o trabalho
Da maneira mais fatal.

Do direito conquistado
Se exige preservação.
Lutamos para mantê-los
Deles não abrimos mão
Os sindicatos que entregam
Cometem uma traição.

No mundo os povos reagem
A esse ataque tão forte
De flexibilizar
Fazendo um profundo corte
É sangrar a última gota
Esgotando-o até a morte.

É a precarização
Rondando solta no mundo
Mantendo os lucros no alto
No seu ataque profundo
Retrocedendo as conquistas
Que sumirão em segundo.

No Brasil os sindicatos
É parte de toda história
Na frente das grandes lutas
Já nos encheram de glória
Derramaram o próprio sangue,
Ficaram em nossa memória.

Os patrões pra desviarem
A luta do sindicato
Cooptaram diretores
Que ao governo ficou grato.
A entidade sem luta
Trilhou num caminho pacato.

Sempre foi objetivo
Do governo de plantão
Mexer em nossos direitos
Tirar da legislação
O que havia conquistado
Para agradar ao patrão.

Durante o longo do tempo
O governo tem insistido
Em reformas trabalhistas
E assim tem agredido.
Roubando o fruto das lutas
Duramente garantido.

O FHC tentou
Valer o negociado
Passando como um trator
Por cima do legislado
Favorecendo as empresas
Com macabro resultado.

Também o Lula embarcou
Na reforma sindical
Abrindo a brecha na lei
Com ajuda federal
Pra dar lucro aos dominantes
De uma forma colossal.

O Lula se esbarrou
Com o tal do mensalão
Que na época detonou
A sua grande intenção
De fazer sua reforma
Para salvar o patrão.

Contra essas tentativas
Levantou-se o movimento.
Tanto FHC e Lula
Recuou desse tormento.
Foram lutas, muitas marchas
Contra o descabimento.

Agora voltou a tona
A reforma trabalhista
O sindicato da CUT
Com seu perfil entreguista
Fez o projeto do ACE
Um plano de vigarista.

Certo dia em Brasília
A cúpula se reuniu
Do ABC, o sindicato
Com a Dilma se uniu
Pactuou com o governo,
Nosso direito ruiu.

O ACE é uma bomba,
Vai explodir num minuto
Direitos subtraídos
Como se fosse mau fruto.
A marca desse projeto
É ser mal absoluto.

É um ataque ferino
Do governo federal
Impondo esse mau acordo
Coletivo especial
Que retira os direitos
A mando da patronal.

O ACE é a negação
Dos direitos trabalhistas
É a voz da patronal
Destruindo as conquistas
Onde empresários se juntam
Com falsos sindicalistas.

O ACE fez a promessa
Que trará modernidade
Dinamiza economia
Consumo na liberdade
Emprego pra todo mundo
Tudo a maior falsidade.

Dirigentes do ABC
Nesse meio é pioneiro
Em acordos tripartites
Na mesa foi o primeiro
Acertando com patrões
Esse acordo desordeiro.

No ano noventa e dois
Metalúrgicos do ABC
Através do sindicato
Pôs o direito a vender
Nas Câmaras Setoriais
Ao patrão foi se render.

O direito de emprego
Entregou-se de bandeja
Deixou o trabalhador
Sem nem ter uma cereja
E na falta de trabalho
Vive na forte peleja.

Esse projeto de lei
É uma pura armadilha
O governo vende o peixe
Dizendo ser maravilha
E o sindicato é anzol
Caindo nessa partilha.

Fiquem atento as ameaças
Nesse projeto contido
Pois a CUT e o Governo
Nem um pouco arrependido
Se somou ao empresário
Seu amigo preferido.

Os trintas dias de férias
Querem deixar fatiado
Em três vezes ou além
O gozo bem parcelado
E a jornada de trabalho
Crescendo pra todo lado.

Se reduz a hora extra
Com o seu valor igual
De uma remuneração
Dessa jornada normal
Parcela o décimo terceiro
Ao pagamento mensal.

Àquela hora de almoço
Não será obrigação
Ficará sempre a critério
De uma negociação
Deixando bem vulnerável
A pressão de um patrão.

A jornada de trabalho
Querem fazer intervalo
Trabalhando quatro horas
Suspende três no estalo
Voltando para mais quatro
O dia terá abalo.

O ACE poderá ser
Um canal de abertura
Que levará o direito
Pra rua da amargura
O ACE é um acidente
De grande envergadura.

Para manter o direito
Temos que ganhar a rua.
Unificar nossas lutas
Contra toda falcatrua.
Se não reagir agora
Esse ataque se acentua.

Venha engrossar a luta
Trazendo o trabalhador
O estudante, o sem-terra
Revelando o seu valor
Desempregado, o sem-teto
Contra o ACE esmagador.

Vamos juntar nosso bloco
Fortalecendo a luta
Unir o trabalhador
Para fazer a disputa
Desmantelando esse ACE
Com a força de quem labuta.




domingo, 28 de outubro de 2012

Editora Luzeiro, lança livro sobre a história do cordel brasileiro


Por Varneci Nascimento,

Durante os últimos 40 anos os estudos sobre o cordel brasileiro ficaram estáticos. As poucas tentativas de pensá-lo caíram no fácil caminho da repetição. Para muitos esse produto cultural vive paralisado na primeira metade do séc. XX, como um fóssil. Repetem-se os mesmos chavões nos quais ele foi sendo sepultado.

Surge agora, com este volume crítico, um caminho diferente para esses estudos. O autor, respaldado por vasta pesquisa, busca saída para os labirintos que lhe acompanharam desde a infância: terá realmente o cordel vindo de Portugal? Qual a verdadeira relação entre o cordel e o universo dos cantadores repentistas? É verdade que os cordéis sempre foram vendidos pendurados em um barbante, nas feiras livres? O cordel é poesia brasileira?

Aderaldo Luciano é doutor em Ciência da Literatura e este livro representa uma parte de sua tese de doutoramento na Universidade Federal do Rio Janeiro. Procura responder as perguntas questionando as respostas sempre dadas e apresentando elementos comprobatórios para a formação de um novo olhar sobre o cordel brasileiro, fruto de longos anos de averiguação.

Nota: este livro foi em lançado em parceria com as Edições Adaga:
Mais informações:
96 páginas
ISBN 978-85-66161-00-7
R$ 20,00
Editora Luzeiro (11) 5585-1800
vendas@editoraluzeiro.com.br
edicoes.adaga@gmail.com

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

SONETO PARA MINHA MÃE




Por Nando Poeta

UMA NOITE NA PRAIA DO FORTE

Linda noite de lua estampada
Lá na Praia do Forte a beira mar
E um  mundo de sonho a mergulhar
Com castelos erguidos fiz morada

Cada estrela luzente contemplada
Me trazia num instante no pensar
Que a alegria inundava o meu brincar
No meu peito a semente eternizada

Ao meu lado minha mãe feliz estava
E eu mais forte que a bela fortaleza
Seu olhar me guiava feito à luz

Seu sorriso repleto de pureza
Que para todo o universo se reluz
Um amor que imenso transbordava.



SAUDADES DA MINHA MÃE

Uma dor que invade o coração
Que maltrata, destrói, a minha mente.
Que às vezes nos deixa tão demente
Sufocando me atira a escuridão.

E no fundo do poço, a imensidão.
Que carrega a morte bem latente
Vai deixando o viver tão descontente
E no caminho a plena desilusão.

A saudade presente no meu peito
Faz minha mãe está sempre na lembrança
Do seu amor grandioso e muito lindo

No meu coração ela descansa
Do que guardo e do que estou sentindo
Será por vida o alimento do deleito.



SAUDADE DE ALGUÉM

Saudade de alguém que está ausente
Não é solidão, não é estar sozinho
Mesmo que seja distante o caminho
Vai guardada no coração e mente

Nos meus passos estará sempre presente
Pois eu penso em você a todo instante
Aumentando mais ainda o amor distante
Que insisto em vivê-lo intensamente
  
Saudade que triplica os meus desejos
São lembranças ligeiro resgatadas
Faz viver os momentos de alegria

São paixões que não fora deletadas
Que reinando estará no dia-a-dia
Manterei sempre acesos os seus lampejos.


NOS BRAÇOS DE MINHA MÃE

Nos seus braços eu estava protegido
Das fraquezas que rondam nesse mundo
Não ficava abandonado um só segundo
Cada instante foi muito bem vivido.

Se o tempo ficasse adormecido
E eu pequeno ainda lá fecundo
Com um carinho e o seu calor profundo
Ao seu convívio estaria agradecido

Uma mulher corajosa e tão bela
Que aos filhos semeou tanta ternura
Cada gesto foi  uma lição de vida

Seu saber para uma ação tão pura
Que curava a mais cruel ferida
E esse verso transporta-me até ela.

sábado, 21 de julho de 2012


Antônio Aurélio de Moraes
O poeta das Alagoas

Era julho. Para ser mais preciso, 05 de Julho de 2012, às 15h30, cheguei a Atalaia – Al, acompanhado pelo senhor Nivaldino Freitas, um jovem atento a política brasileira e entusiasmado com o forró pé de serra e folguedos alagoanos – foi esse cidadão que gentilmente, após várias “buscas” encontrou o endereço do poeta maior de Alagoas – Antônio Aurélio de Moraes – o nosso Tio Tonho!
A porta entreaberta permitia a entrada dos raios de luz de um sol muito acanhado e uma névoa úmida acompanhada de uma brisa contida, tímida, melancólica. Ele, o Tio Tonho, estava ali, imóvel. Sentado na boca da porta, numa poltrona que o aconchegava como se já fosse a continuidade do seu corpo; Ele – Tio Tonho – foi interrompido pela minha voz cheia de contentamento:

— Antônio Aurélio de Moraes! O poeta mais poeta dos poetas de Alagoas!

Sem muita festa, eu ouvi um resumidíssimo “Olá... Quem é?”. Fui alertado pela sua sobrinha Lívia: Ele, o Tio Tonho, “enxerga muito pouco”.
Adentrei a saleta, agora sem muita alegria. A história de sua vida foi revisitada. No início, narrada com muita tristeza, com personagens que chegam sem ninguém chamar e teimam insistentemente anular os sonhos das pessoas: diabetes, glaucoma, memória “fraca” e a fragilidade da coluna vertebral – daí a dificuldade de andar ou ficar de pé.

Aquele poeta que conheci em 1979, na Rua Formosa, na Levada (bairro de Maceió/próxima a antiga Feira do Passarinho), pomposo, menestrel, gracioso, cuidadoso no discurso e alegre, conhecido nos meios acadêmicos como Tio Tonho, por conta dos seus versos impressos no livro “Versos de um Lambe-sola”, estava ali, na minha frente.

Rememoramos as suas poesias – “Salaro Mimo”, “Talavizão”, “AID e a Camisinha”, “Ovo de Codorna”, “Vou morá na lua” e as palestras e recitais do poeta em tantos espaços culturais da nossa querida Maceió. Que instante fantástico! Não me esqueci de contá-lhe que os seus versos abriram tantas portas para mim, caminho para as minhas pesquisas, estudos, palestras e oficinas para educadores e alunos aqui em São Paulo, daí minha eterna gratidão.

Sou grato, Tio Tonho! Muita paz, muita saúde! Que Deus o proteja! Obrigado!

João Gomes de Sá, cordelista.

segunda-feira, 25 de junho de 2012



POEMA DA LIBERTAÇÃO

                       Medeiros Braga

Depois de meio século de labuta
Do qual fazendo coisas que nem sei
Encostei minhas armas e da luta
Sem muita escolha, então, me aposentei.
Em sentar com meus netos eu pensei
E contar as estórias do menino...
Do menino sonhador e peregrino
Que sem prever na vida alguma guerra
Certo dia partiu da sua terra
Para uma aventura do destino. 

Eu sonhei depois disso, por meu tino,
Em me sentar às margens d’algum lago
E ficar a ouvir, belo e divino,
Da passarada um cantar de afago.
Eu pensei num poema, nada amargo,
Compor no prazer do menestrel,
Onde pudesse expor sobre o papel,
Das fantásticas paisagens das colinas
As emoções mais belas e divinas
Que balouçam em ritmo de tropel.

Mas não foi possível... meu corcel
Foi tomando, por si, outros caminhos.
Já não sinto o sabor puro de mel,
Já não vejo mais lago e passarinhos.
Os amores se foram dos seus ninhos,
De repente, qual deusa das miragens,
A beleza fugiu lá das paisagens...
E mais, para ferir meu coração
Só ficou folha seca pelo chão
Aumentando a tristeza das imagens.
Eu tive que fazer outras viagens,
Fiquei longe das TVs, sua influência,
Pude ver bem real, n’outras paragens,
Um outro mundo feito de excrescência.
As imagens projetadas com aparência
De um mundo majestoso, encantador,
Finalmente, de modo arrasador
Caiam uma a uma ante a verdade,
Descartando a fugaz felicidade
Sofisticada do televisor.

Descobri esse meio enganador
Com seu poder de comunicação
Que pra manter as regras do opressor
Faz um trabalho de alienação.
Bem pior que a caverna de Platão
Onde as sombras, então, alienavam,
Da TV as imagens enganavam
Pela força dos falsos esplendores
Todos os seus telespectadores
Que como bobos à tela se portavam.

Eu, livre das imagens que enganavam,
Do mundo conheci a realidade,
As injustiças que penalizavam
Também as vi com muita claridade.
Só não vi os clarins da liberdade,
Nem o verde instigante  da ‘sperança,
Nem auroras festivas da bonança
E, por conta de estarem iludidos,
Não ouvi o clamor dos oprimidos
Abafados por forte segurança.

O que vi por lugares percorridos
Foi todo um mundo de contradições,
Dos bens gerados foram repartidos
Uns tostões para uns; outros, milhões.
Umas casas de taipa; outras mansões,
Uns com terno, com fraque, com cartola,
Bons hospitais, comida e boa escola,
Enquanto outros, frágeis e tristonhos,
Saiam já, sem esperança e sonhos,
De porta em porta a implorar esmola.

Vi o homem do campo de sacola,
Contra a vontade, abandonar a terra,
Vi governo protetor de quem esfola
Levando o camponês para tal guerra.
Tive a tristeza que no peito encerra
De tanto ver miséria e tanta dor,
De ver também que ao trabalhador,
Posto como vítima do trabalho,
Lhe negam pão, bom teto, o agasalho
E o sonho elementar, libertador.

Eu vi a burguesia sem temor
Morando em confortável fortaleza,
Usando helicóptero com rigor
Da sua casa para sua empresa.
Para mais segurança uma pobreza
Bem treinada, com arma e munição
Eis ali para dar mais proteção...
Enquanto o pobre, total, desprotegido
Apelava no percurso percorrido
Retornar para casa salvo e são.

Vi os índios expulsos da floresta,
A madeira de lei no chão caída,
Dos grileiros eu vi em ação funesta
Os peões enxotados, sem guarida.
Traficantes eu vi pela avenida
Com seu poder de fogo, paralelo,
Sobre as mãos a granada, o parabelo,
A metralha, o fuzil, a escopeta,
Dividindo o poder nesse planeta
Com a classe burguesa em seu duelo.

Das usinas de açúcar, o seu flagelo
Pude ver nessas “fábricas de mel”,
Dos engenhos de cana era o cutelo
O seu trato desumano e tão cruel.
O canavieiro conhecia o fel
Do capanga, usineiro e barracão
Que extorquiam no vale, no cambão,
Na conta, nas tarefas desmedidas
E nas leis que eram convertidas
Para a prática nefasta do patrão.

Infeliz de quem a indignação
Ousasse externar ao usineiro,
Às celas de tortura, sem perdão,
Era levado tal canavieiro.
O Nêgo Fuba e o Pedro Fazendeiro
Pagaram com a vida seus entraves.
Inda punidos pelas “faltas graves”
Com a morte covarde e traiçoeira
Foram também João Pedro Teixeira
E a Margarida Maria Alves.

Nesse clima, que é o causador
Da injustiça e da desigualdade,
Renunciei ao plano sonhador
De vida de lazer e liberdade.
Ouvindo o clamor da humanidade
Não pude descansar, não era justo,
Por isso que, num ideal augusto,
Portando como espada uma caneta,
Golpeei nas páginas do planeta
Os males degradantes e vetustos.

Matutando sobre os atos tão injustos,
Refletindo um a um, pude chegar
À conclusão que fatos com seus custos
Só um sistema, então,  pode causar...
É ele o cruel e impopular
Modo de produção capitalista
Que cria o oprimido e o altruísta,
Que divide, fatal, a humanidade
Em duas classes, com desigualdade,
E põe em luta na ferrenha pista.

É o sistema, então, capitalista
O causador de todo esse pugilo,
Não há, como saída realista
Outra forma, senão, de destruí-lo.
Não existe mistério, nem sigilo,
Por mais que alguém procure esconder
Está aí à luz para se ver
Que a solução desse problema
Reside na mudança do sistema,
No desmoronamento do poder.

Qualquer luta política pra valer
Há de ter como meta o seu combate,
Para tal há do povo mais saber
Ir buscar pra vencer o grande embate.
O saber é do povo o estandarte,
É vital, instrumento imprescindível,
É capaz como arma inteligível
De munir e deixar o militante
Bem formado, coerente, atuante,
Aguerrido, idealista e imbatível.

Vamos todos nessa luta imprescindível,
Punhos cerrados, mentes com saber,
Lutar contra... esse sistema horrível,
Arrancar pela raiz o seu poder.
Um mundo justo para se viver
É, de fato, possível e necessário,
Por isso deve todo um ideário
Conduzir com fervor a militância
À luta,  que terá por circunstância
Um outro ciclo revolucionário.

Encontro-me num campo, solidário,
Onde tenho por arma o verso ardente
Do poema que chega ao proletário
Como um canto de luta consciente.
O saber torna o povo independente,
É o instrumento da libertação.
Dele nascerá, como um vulcão
Imbatível quando lança a sua lava,
Um povo forte a soerguer a clava
Para o triunfo da revolução.