quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

LANÇAMENTO DE CORDEL SOBRE O CANGAÇO




Por Aderaldo Luciano

Enganam-se os que imaginam que ao poeta de cordel cabe apenas a delicadeza dos bosques e das fadas, a rigidez lúdica das pelejas, o aproveitamento dos contos tradicionais da oralidade ou o fácil caminho das adaptações dos sucessos literários oficiais. Engano dobrado. Os nossos clássicos, os pioneiros fundaram a tradição política no cordel. Nando Poeta é apenas um sucessor contemporâneo. Com ele, os temas mais atuais, os mais polêmicos, os que necessitam de maior apuro tornaram-se corriqueiros e irrigam toda uma faixa de público ávido por esse tema, militantes que são. Cordéis em defesa dos direitos da mulher, de respeito à diversidade sexual, de reflexão sobre bullying nas escolas ou sobre a saga da consolidação dos direitos dos trabalhadores são a voz do poeta na boca de um narrador engajado ou de um eu-lírico consciente. Agora com estes O cangaço e o Lendário Lampião e A Saga de Jesuíno Brilhante, Nando toma ares de romancista ao contar a história de dois ícones do cangaço nordestino.

LEIA
A saga de Jesuíno Brilhante e O Cangaço e o lendário Lampião,
Os novos cordéis
De Nando Poeta.

Um lançamento da Editora Luzeiro


Assista o Teaser do lançamento de dois clássicos do cangaço em CORDEL de Nando Poeta:
A Saga de Jesuíno Brilhante e O Cangaço e o lendário Lampião.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

MENSAGEM DE NATAL :



Por José Walter Pires

Se pudesse a humanidade
Envolver todo o Universo
De solidariedade
Nesse momento perverso
Por toda parte disperso
De mãos dadas, num abraço,
Comprimido nesse espaço
O mundo, então, mudaria,
Para reinar harmonia
Tudo no mesmo compasso

Se pudesse a humanidade
Execrar o egoísmo
Dar fim à desigualdade
Semear só altruísmo
E praticar o civismo
Dentro da sociedade
Sem nenhuma falsidade
Ao cumprir sua missão
De completo cidadão
Restaria prosperidade

Se pudesse a humanidade
Viver sem a violência
Na sua diversidade
Que se espalha sem clemência
Levando o mundo à falência
Nesse drama social
De macabro ritual
Outro seria o modelo
Pra construir com desvelo
O nosso mundo ideal

Se pudesse a humanidade
Proteger a Natureza
De tanta perversidade
Praticada com crueza
Devastando essa Grandeza
Desde os nossos ancestrais
Aos tempos industriais
A fonte seria eterna
Dessa riqueza materna
Pra podermos viver mais

Se pudesse a humanidade
Redefinir o trajeto
Dentro da realidade
Com base em novo projeto
Traçado pelo arquiteto
Da vontade coletiva
Seria a alternativa
De uma gestão democrática
Exercida pela prática
Da ética coercitiva

Se pudesse a humanidade
Ser fiel a sua crença
Acreditar de verdade
Sem pensar em recompensa
Como sempre foi propensa
Sem uma fé mensageira
A glória é passageira
Para todo ser humano
Dito “bom samaritano”
Mas se nega a vida inteira

Se pudesse a humanidade
No limiar do Natal
Festa da fraternidade
Praticar o ritual
Do perdão essencial
Em qualquer ocasião
Seria a revelação
De verdadeiro Ano Novo
Reunindo todo povo
Em confraternização

Se pudesse a humanidade
Fazer tudo diferente,
Digo com sinceridade
Que não me sinto descrente
Nas mudanças do presente
Boto fé na competência
Do Homem e da Ciência
Sem desprezar o Divino
Para mudar o destino
Melhorando a convivência.

dez/2012

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

VIDA E OBRA DE DOIS GONZAGÃO




Por Nando Poeta


Em 2012 no Brasil tem realizado homenagem a Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.

Nasceu nos primeiros anos do século XX.

Na época no país vivíamos a política do café com leite, o revezamento dos poderes entre São Paulo e Minas Gerais.

O nordeste era a região dominada por coronéis, que surrava e humilhavam os miseráveis do sertão.

Um nordeste que vivia assolado pela seca, que colocava na ceia, a mais cruel das maldades da face da terra, a fome.

Aqui o seu povo viviam no flagelo, sem terra, sem comida, como dizia o poeta, um morto vivo.

Açoitado pelas diferenças sociais, uns fugiram de sua terra e foram buscar guarida por outras bandas, outros insistiram na terra prometida.

Transformando-se em trabalhadores sem terra, em jagunços,vaqueiros, cangaceiros.

No cangaço muitos sertanejos mergulharam até a morte.

Um momento de guerras de chumbo grosso, das pelejas resolvidas na ponta do punhal, do salva-se quem puder.

Foi nessa realidade que nasceu Luis Gonzaga, mais um menino, que nasceu nas entranhas das caatingas, como tantos outros filhos de sertanejos.

Uma origem humilde, e como todo aquele que nasceu em berço cercado de escassez, sofreu e muito, carregou como um burro, muita cangaia.

Alimentando uma paixão por uma linda cabocla, só que filha de um coronel. Como pobre e negro jamais seria do agrado do manda chuva daquela região. Foi enxotado daquelas terras.

Foi para o Exercito, na época um meio de ascensão para o filho do pobre, não fez carreira.

Mas foi na música que o Gonzagão deslanchou e partiu para o Brasil e o mundo.

A sua vida tomou um percurso distinto de sua obra.

Na vida andou muito próximo aos poderosos, pelo sertão afora cantou muito animando o pão e circo dos coronéis, fazendo os seus gingos de campanhas para os dominantes, durante a ditadura militar, bateu muita continência para oficiais que sujaram as mãos de sangue, oprimindo o povo brasileiro.

Já sua obra ganhou outra dimensão.

O seu trabalho artístico teve outro rumo, se apoiou na vida daqueles que habitaram o universo do povo sofrido e retirante do nordeste brasileiro.

Cantou a dor do sertanejo, que sofria com a falta de terra, de água, que eram expulsos de sua região e vagavam em direção a outras regiões longínquas.

Sua música, seja o forró,o baião,fazia denuncias contra a miserabilidade do povo do sertão nordestino, como também apunhalava as classes dominantes e suas práticas.

Como na canção Vozes da Seca, que traz a poesia matuta, como uma expressão de insatisfação contra a falta de políticas públicas para solucionar a problemática da seca.

“Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão
É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage
Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão”


LINK NO YOU TUBE: http://youtu.be/gZ1LuWmuBeo (NÃO É AO VIVO, MAS A EDIÇÃO É INTERESSANTE)


Na “Poesia de Patativa do Assaré” canta o sofrimento dos retirantes fugindo da seca.

.. Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo
Nóis vamo a São Paulo
Viver ou morrer...

... Nóis vamo a São Paulo
Que a coisa tá feia
Por terras alheia
Nós vamos vagar...

... E vende seu burro
.. Pois logo aparece
Feliz fazendeiro
Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem...

.. A seca terrível
Que tudo devora
Ai,lhe bota pra fora
Da terra natal...

.. Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No Norte e no Sul...


Link no you tube: http://youtu.be/r-8rsqTJi-0 (idem)



Na sua voz entoada chegava-se aos quatro contos do mundo o clamor de um povo barbaramente excluído dos direitos sociais e políticos, A seca longe de ser uma descarga divina, era o retrato do abandono das classes dominantes e seus políticos para com a população carente de tudo.

Na canção “Xote ecológico” denuncia a destruição da natureza e o assassinato de Chico Mendes.


“Não posso respirar, não posso mais nadar
A terra está morrendo, não dá mais pra plantar
Se planta não nasce se nasce não dá
Até pinga da boa é difícil de encontrar
Cadê a flor que estava aqui?
Poluição comeu.
E o peixe que é do mar?
Poluição comeu
E o verde onde que está ?
Poluição comeu
Nem o Chico Mendes sobreviveu”


Link no youtube: http://youtu.be/jmqYEOhLpsM


Nesse centenário celebramos a obra de Luis Gonzaga, não esquecendo que contraditoriamente, as suas relações políticas sempre foram muito conservadoras, o lado fraco de um homem que procurou trilhar dois caminhos distintos, revelando sua grande contradição. O verso de Cacá Lopes retrata bem esse momento:

Luiz cantou em campanhas
De políticos governistas,
Criou jingles, trabalhou
Para nacionalistas,
Enquanto o filho assumia
Posição com esquerdistas.

Lua apoiou Jânio Quadros,
Lucas Nogueira Garcês,
Por Dutra, Adhemar de Barros
Tudo quanto pôde fez.
Carlos Lacerda foi outro,
Que do Rei ficou freguês.

Nos salões dos poderes por diversos momentos o LUA emprestou sua voz, para se confraternizar com os algozes do seu povo tão lembrado nas letras de suas canções.

E apesar dessas relações intimas com o poder, na época da ditadura teve canções suas censuradas.

Sabendo dessa limitação na trajetória de Gonzagão não podemos negar o seu trabalho artístico que conseguiu encantar os corações e mentes com suas composições e interpretações que realçavam o cotidiano do povo trabalhador desse imenso país.