segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Poetas lançam cordel em homenagem a Chico Mendes


O LEGADO DE CHICO MENDES
Por Nando Poeta e Varneci Nascimento



Agora no dia 22 de dezembro de 2013 completam 25 anos do assassinato de Chico Mendes.
Os Cordelistas Nando Poeta e Varneci Nascimento com o compromisso em manter vivo o legado do líder ambientalista, escreveram um cordel que resgata toda sua trajetória de luta e a resistência dos povos das florestas contra a sua devastação.

A Amazônia gigante
Alimenta a nossa mente,
Com tanta diversidade
E história transcendente
Clamando por proteção
Da parte de toda gente.

Quem levantou sua voz
A favor da natureza
Regou com o próprio sangue
A mata e deu a certeza
Que quando a semente morre
Nasce com maior grandeza.


Veja o cordel na integra:

O LEGADO DE CHICO MENDES
Por Nando Poeta e Varneci Nascimento

A Amazônia gigante
Alimenta a nossa mente,
Com tanta diversidade
E história transcendente
Clamando por proteção
Da parte de toda gente.

Por causa dela, pessoas
Tombaram em sua defesa:
Seringueiros e indígenas,
Por amarem a natureza
Tornaram-se presa fácil
De quem só quer a riqueza.

Esse cordel foi buscar
Entrar na realidade
Dos nossos povos nativos
Na busca da igualdade,
Contra os ataques cruéis
Do clã da barbaridade.

A mata, os bichos e o povo
Moradores dessa terra
Sofrem tantas ameaças
Fruto da cruenta guerra
Feita com bala e machado
E a força do motor serra.

Quem levantou sua voz
A favor da natureza
Regou com o próprio sangue
A mata e deu a certeza
Que quando a semente morre
Nasce com maior grandeza.

Entre tantos que tombaram
Recordo Wilson Pinheiro
Desbravador, corajoso,
Líder nato e seringueiro
Foi morto covardemente
Do modo mais traiçoeiro.

Quem escolheu residir
Embrenhado nas florestas
Vive do que a terra dá
Corta a fome, tapa arestas.
Para celebrar colheitas
Realizam suas festas.

O solo fértil acreano
Foi palco do nascimento.
Xapuri tornou-se a mãe,
Do Chico cheio de alento
Que conquistou junto ao pai
Quando buscava alimento...

Trabalhou nos seringais
Na extração da borracha
Encantou-se com a floresta
Por isso Chico despacha
A luta contra os canalhas
Que em todo canto se acha.

Ainda jovem engajou-se
Na militância cristã
Onde atuou bravamente
Em prol de um novo amanhã
Na proteção do bioma
Tornou-se o maior titã.

Lá pelos anos sessenta
Do século que se passou
Conheceu um comunista
Que a Marx lhe apresentou.
Companheiro obstinado
Com quem se aconselhou.

Euclides Fernandes Távora
Havia sido um tenente
Que junto de Carlos Prestes
Disseminou a semente
Em prol do socialismo,
Isso o fez mais consciente.

Depois de um tempo preso
Em Fernando de Noronha
Esse tenente exilou-se
Na Bolívia a onde sonha
Com um mundo igualitário
Sem a falta de vergonha.

Vindo da Bolívia ao Acre
O Távora chega à fronteira.
Ao lado de Chico Mendes
Armou a maior trincheira
Na defesa da Amazônia
Foi a sua ação primeira.

No ano setenta e cinco
Concretizou a ideia
De fundar o sindicato
Da cidade Brasileia.
Junto aos trabalhadores
Começava a epopeia.

Junto a Wilson Pinheiro
Também foi o sindicato
Fundado em Xapuri
Para que de imediato
Seus vários trabalhadores
Se organizassem de fato.

Por esse mesmo período
Se elegeu vereador.
Mas viu que o MDB
Não era trabalhador.
Distante dos movimentos
Procurou outro motor.

Foi fundador do PT
Pela década de oitenta
Candidato a deputado
Uma vaga Chico tenta
Apesar de não ganhar
Buscou outra ferramenta...

Criou a CUT em seguida
Dela foi seu dirigente
Participou dos congressos
Nas greves se fez presente.
Debateu em muitos fóruns
A questão do ambiente.

Unidos todos na luta
Organizam seus empates
As mulheres e os filhos
Jamais fugiram aos combates
E na trincheira da vida
Acontecem os embates.

A onda capitalista
É máquina destruidora.
Extrai sangue da floresta
De maneira arrasadora
Quem se opõe contra eles
Enfrenta a metralhadora.

Chico Mendes disse um dia:
“Nunca mais um companheiro
Vai derramar o seu sangue
Ou de outro caminheiro
Juntos, seremos capazes
De salvar o seringueiro”.

Protegendo a natureza
O lugar de nossa gente
É onde aprende a viver
E criar naturalmente
Nossos filhos e animais
Dentro do meio ambiente.

Chico Mendes consciente
Que a seara ecológica
Tem dimensão mundial
Por compreensão e lógica
Seguiu o socialismo
Sem ideia demagógica.

Pela floresta Amazônica
Pulmão maior do planeta
Travou-se um combate extremo
De bala e de baioneta
Para salvá-la da morte
De roubalheira e mutreta.

Está nas mãos mais ousadas
O futuro da Amazônia
Contra os ataques hostis
De quem nos chama colônia
Contudo, será preciso
Batalhar sem cerimônia.

Era um verde e vermelho
A favor da ecologia,
Pelo bem de todo povo
Enfrentou selvageria
Um sonhador da floresta
Honesto e de valentia.

Homem de ação singela
Pragmático no labor
Agia a frente de quem
Considerava opressor.
Incompreendido foi
Uma vítima do terror.

Socialista convicto
Queria a revolução.
Por um planeta mais verde
Cheio de harmonização
Entre natureza e homem
Sem nenhuma agressão.

Dentro da bonita mata
Sob a sombra e a gruta
Enfrentou o latifúndio,
Homicida que desfruta
Do poder que mata quem
Não foge de uma labuta.

Até hoje os latifúndios
Patrocinam várias mortes
Esmagando os ribeirinhos
Tão resistentes e fortes.
Que clamam pelo socorro
Contra os variados cortes.

Não podemos esquecer
Da bonita trajetória
Dos que tombaram lutando
Porque marcaram a memória
De um coletivo inteiro
E se inscreveram na história.

Quem se opõe ao capital
Pode aguardar a matança
Ou perseguição cerrada
E a ponta de uma lança.
Do poder e do dinheiro
Que diariamente avança.

Proteger a Amazônia
É um dever do Estado
No entanto, o recurso
Para isto, destinado
Deixa o pulmão do mundo
Cada vez mais sufocado.

O Chico Mendes deixou
O seu legado de lutas
Um ensinamento caro
Porém as forças astutas
Procuram calar a voz
De pessoas resolutas.

Este Chico ecológico
Também foi socialista
Construiu a unidade
Como bom estrategista
Sabendo que a união
Fortalece o ativista.

Mas na penumbra da noite
A pistolagem atuou.
Um tiro dado de doze
Bem no seu peito cravou
Ele gritou: — Me acertaram
E no chão sem vida tombou.

A bala calou a voz
Gritante contra os algozes,
Mas eles se enganaram
Porque os sons mais velozes
Produzidos pelo Chico
Atingiu milhões de vozes.

A sua morte ecoou
Feito o grito mais profundo
Quem pensou que se livrava
De Chico num só segundo
Viu o clamor por justiça
Nos quatro cantos do mundo.

Essa batalha ferrenha
Fez sua vida encurtada,
Porém deixou um legado
Ao longo da caminhada
A árvore morta brotou
Muito mais frutificada.

Esse bioecologista
Vítima da mão homicida
Por enfrentar os desmandos
Sempre de cabeça erguida
Mas não tem bala que cale
Uma voz a favor da vida.

O compromisso na causa
O transformou em lendário
Por se tornar neste tema
O mais célebre visionário.
Que ao expor pensamento
Encontrou adversário.

O mundo passa a imagem
Desse ambientalista
Ser somente humanitário
Sem cunho socialista
Ocultando o seu combate
A praga capitalista.

Os inimigos da mata
São os latifundiários
Pecuaristas, madeireiros
Pensamentos ordinários
O agronegócio fecha
A lista dos mercenários.

No lugar que tem floresta
Querem fazer um regato.
Das árvores fazer madeira
Ir do couro ao sapato
A terra virar pastagem
É desejo imediato.

Tantos falam em seu nome
Em nossa atualidade
E fazem tudo ao contrário
Na mais pura falsidade
Porque negam sua essência
Ecológica de verdade.

Matá-lo não pôs o fim
Na luta da ecologia
A corrente que ficou
Batalha no dia-a-dia
Para punir quem destrói
O que a floresta cria.

Um comentário: