segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Zé Gonçalves: O Poeta Sapateiro



Fiz em janeiro de 2011.
Nando Poeta.

José Gonçalves da Silva
Profissão de sapateiro.
Nascido na Paraíba
Da liberdade herdeiro.
Poeta, um lutador
Na luta, sempre primeiro.

Dez anos da sua morte
Fazemos a homenagem.
Ao poeta militante
Que gravou sua imagem
Nos versos de amor e luta
Revela muita coragem.

Aos seus setenta anos
Em dois mil e um, janeiro.
Doente, debilitado
A morte chega ligeiro.
Parte deixando saudades
O poeta sapateiro.

O bairro de Mãe Luiza
São os olhos de Natal.
Do alto o farol enxerga
A beleza natural.
Foi nesse canto tão belo
Que Zé fez seu arraial.

Comandante de batalhas
Com a força de um guerreiro.
No sindicato, no bairro
Da luta um caminheiro.
Defendendo a natureza
Era o seu timoneiro.

No morro de Mãe Luiza
Na cidade de Natal.
Faz a vida navegar
Passando por vendaval,
Mas sempre com a certeza
De vencer o temporal.

Zé Gonçalves sapateiro
Do lado tomou partido.
Irmanado ao sofrimento
Do povo que era excluído.
Militando pela vida
De seu irmão oprimido.

Zé calçando toda mente
De um povo com poesia.
Chamando ao desafio
Da luta do dia a dia.
Queria a libertação
Na vida ter alegria.

Era membro fundador
De uma Sociedade
Dos Poetas Vivos e Afins
Que acende na cidade
Do Sol a bela poesia
Com tanta vitalidade.

Em campanhas democráticas
Deixou sempre sua marca.
E no Petróleo é nosso
Tripulante foi da barca.
Em defesa da Anistia
Nessa luta ele embarca.

Pulsa em suas poesias
Em cada momento vivo.
Trazendo a cada mente
O ideal coletivo.
E em suas caminhadas
O bem era objetivo.

Por onde tu caminhaste
Deixasse tua semente.
Que muito vivente colhe
Pra enfrentar força horrente.
José Gonçalves da Silva
Entre nós estás presente.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Cracolândia, um país de indigente



Por Nando Poeta

É um rebanho de corpo enferrujado
De pessoas que vagam sem sentido
De um viver que já foi desvanecido
Sob o olhar tão tristonho e ofuscado
Na cegueira de um povo encurralado
De um vicio se torna prisioneiro
Mergulhado num mar mais traiçoeiro
Vão trilhando o caminho de um destino
Com o mundo entra em forte desatino
E em bagaço se imergem num bueiro.

Uma dor que se torna um grande drama
Como gente despenca de um penhasco
Dela mesma se torna seu carrasco
Sempre longe, distante de quem ama
São as ruas, calçadas, sua cama
Onde o vento, o frio vence o abrigo
E na luz do dia é um mendigo
Legião que habita um deserto
Uma vida errante, descoberto
De amor, de carinho, e de amigo.

Não existe no rosto um só sorriso
De uma gente que vive solitária
Companheira da morte é diária
Com uma pedra ele queima o seu juízo
Que despenca do alto até o piso
E na queda, em pedaços, triturado
Ao suco do mal é misturado
E na sede das lágrimas morre a fonte
Vão perdendo na vida o horizonte
E o com o tempo o seu corpo é massacrado.

Como bicho se esconde em uma toca
Brancos, negros, mulheres e crianças
Habitando fazendo as andanças
Tropeçando em toco que não broca
São segredos que moram na maloca
É uma teia de fibras resistente
Ao cair vira uma pobre semente
E os seus frutos nascendo apodrecidos
É a lama no mundo de esquecidos
Cracolândia um país de indigente.

São cachimbos acesos que em brasa
Que nas bocas em roda vão girando
E na mente a fumaça sai torrando
O tecer do viver ligeiro vasa
Do vivente cortando, quebra a asa
Cicatriz ela chega com a morte
E aquele que um dia já foi forte
Adormece num sono bem profundo
Caminhando vagando pelo mundo
O sentido do ser perdendo o norte.

São as pedras que forjam a construção
Vão erguendo castelos de areia
Reunidos em uma grande aldeia
De famintos que habitam a escuridão
Com seus sonhos brotando da erosão
Na fumaça evaporam pelos ares
Pela rua explodindo vãos os lares
Desagrega, em pó vira a vida
E abrindo, gigante é a ferida
Sucumbindo na sua descaída.

O poder do estado bate, mata
Vai o mundo real se segregando
Nas muralhas de pedras arroxeando
E a vida de um povo se arrebata
A policia na bala nela empata.
Sem saída o viver é uma furada
Governante não pensa mais em nada
Dispersando a massa pela rua
Sem tratar a cabeça deixa nua
Pois é essa a política desastrada.

É um assassinato, um genocídio
Onde a fúria venal mira seu tiro
E o fumante caindo num suspiro
Sobrevivente se abriga no presídio
E os demais se entregam ao suicídio
Uma vida cruel de desgraçados
Um amontoado de humanos destroçados
Para muitos já é o fim da trilha
A maldade o poder é quem partilha
E condenam a morte os seus julgados.