domingo, 1 de janeiro de 2012
Cracolândia, um país de indigente
Por Nando Poeta
É um rebanho de corpo enferrujado
De pessoas que vagam sem sentido
De um viver que já foi desvanecido
Sob o olhar tão tristonho e ofuscado
Na cegueira de um povo encurralado
De um vicio se torna prisioneiro
Mergulhado num mar mais traiçoeiro
Vão trilhando o caminho de um destino
Com o mundo entra em forte desatino
E em bagaço se imergem num bueiro.
Uma dor que se torna um grande drama
Como gente despenca de um penhasco
Dela mesma se torna seu carrasco
Sempre longe, distante de quem ama
São as ruas, calçadas, sua cama
Onde o vento, o frio vence o abrigo
E na luz do dia é um mendigo
Legião que habita um deserto
Uma vida errante, descoberto
De amor, de carinho, e de amigo.
Não existe no rosto um só sorriso
De uma gente que vive solitária
Companheira da morte é diária
Com uma pedra ele queima o seu juízo
Que despenca do alto até o piso
E na queda, em pedaços, triturado
Ao suco do mal é misturado
E na sede das lágrimas morre a fonte
Vão perdendo na vida o horizonte
E o com o tempo o seu corpo é massacrado.
Como bicho se esconde em uma toca
Brancos, negros, mulheres e crianças
Habitando fazendo as andanças
Tropeçando em toco que não broca
São segredos que moram na maloca
É uma teia de fibras resistente
Ao cair vira uma pobre semente
E os seus frutos nascendo apodrecidos
É a lama no mundo de esquecidos
Cracolândia um país de indigente.
São cachimbos acesos que em brasa
Que nas bocas em roda vão girando
E na mente a fumaça sai torrando
O tecer do viver ligeiro vasa
Do vivente cortando, quebra a asa
Cicatriz ela chega com a morte
E aquele que um dia já foi forte
Adormece num sono bem profundo
Caminhando vagando pelo mundo
O sentido do ser perdendo o norte.
São as pedras que forjam a construção
Vão erguendo castelos de areia
Reunidos em uma grande aldeia
De famintos que habitam a escuridão
Com seus sonhos brotando da erosão
Na fumaça evaporam pelos ares
Pela rua explodindo vãos os lares
Desagrega, em pó vira a vida
E abrindo, gigante é a ferida
Sucumbindo na sua descaída.
O poder do estado bate, mata
Vai o mundo real se segregando
Nas muralhas de pedras arroxeando
E a vida de um povo se arrebata
A policia na bala nela empata.
Sem saída o viver é uma furada
Governante não pensa mais em nada
Dispersando a massa pela rua
Sem tratar a cabeça deixa nua
Pois é essa a política desastrada.
É um assassinato, um genocídio
Onde a fúria venal mira seu tiro
E o fumante caindo num suspiro
Sobrevivente se abriga no presídio
E os demais se entregam ao suicídio
Uma vida cruel de desgraçados
Um amontoado de humanos destroçados
Para muitos já é o fim da trilha
A maldade o poder é quem partilha
E condenam a morte os seus julgados.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário