DISCURSO DE POSSE DE NANDO POETA NA PRESIDÊNCIA DA
ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LITERATURA DE CORDEL (ANLIC)
Confrades e confreiras, amigos e amantes do cordel,
Elaborar uma descrição de 600 caracteres sobre a
posse da nova diretoria da Academia.nesta sexta feira 13 Nando Poeta é
empossado na Presidencia da Academia Norte-Rio-Grandense de Literatura de
Cordel junto com a nova diretoria, o cordelista Nando poeta, proferiu em seu
discurso:
Com o coração pulsando de emoção e o espírito
carregado de responsabilidade, assumo hoje a presidência da Academia
Norte-Rio-Grandense de Literatura de Cordel. Este momento marca um capítulo
especial em minha caminhada, uma travessia que se entrelaça com os versos do
cordel, essa arte que é luta, memória e sonho. O cordel nos conecta ao passado
que nos moldou e nos impulsiona para um futuro a ser escrito com poesia e
resistência.
Antes de tudo, rendo minha homenagem a Tonha Mota,
que liderou nossa Academia com firmeza e delicadeza nos últimos seis anos.
Desde a fundação do Ponto de Memória Estação do Cordel, em 2017, Tonha tem sido
um farol na luta pela valorização do cordel, inspirando-nos com seu legado.
Minha profunda admiração e gratidão a você, Tonha. Agradeço também aos
confrades e confreiras que abraçaram e apoiaram a formação desta nova
diretoria, confiando em nosso compromisso de avançar e fortalecer ainda mais a
nossa Academia.
Nos últimos anos, temos testemunhado o florescer do
cordel e do repente no solo potiguar. Entramos no século XXI com um punhado de
poetas que cabiam na palma da mão, um grupo restrito, mas repleto de paixão.
Hoje, duas décadas depois, demos um salto que ecoa pelos sertões e cidades: o
cordel potiguar cresceu e se ramificou em inúmeros espaços de propagação dessa
arte.
Movimentos como o dos poetas mirins e o
brilhantismo de homens e mulheres que conquistam prêmios em concursos pelo país
revelam a força dessa tradição. Entidades como a Casa do Cordel, a Academia de
Trova, e o Ponto de Memória Estação do Cordel simbolizam essa expansão e
consolidam o cordel como um pilar vivo e pulsante da cultura potiguar. Este
avanço não é apenas motivo de orgulho, mas um chamado à responsabilidade de
fortalecer ainda mais essas raízes.
Vivemos tempos contraditórios: enquanto o cordel é
reconhecido como patrimônio imaterial do Brasil, ainda enfrentamos o abandono
das políticas públicas, que ignoram sua importância cultural e histórica. Cabe
a nós, cordelistas e defensores dessa arte, resistir, inovar e avançar.
Aceitamos este desafio com o compromisso de conduzir esta Academia por um único
mandato, renovando nosso estatuto e incentivando a participação ativa de todos
os acadêmicos na construção de uma gestão plural e vibrante.
Nosso Brasil, tão rico em diversidade, ainda
permite que equipamentos culturais como o Memorial Câmara Cascudo e o Museu
Café Filho se transformem em cenários de descaso e esquecimento. Ao mesmo
tempo, instituições como a nossa enfrentam a carência de espaços para
florescer. Não podemos aceitar a cultura relegada às sombras. Nossa Academia
será uma trincheira luminosa, em defesa da arte do cordel e de sua presença
viva no cotidiano do nosso povo.
O cordel é muito mais que poesia; é o murmúrio das
águas e o sussurro do vento nas veredas de nosso chão. É o grito do trabalhador
e o canto do oprimido. É o retrato do povo em busca de justiça. Neste ano
renovamos nosso compromisso com essa tradição, fazendo dela um instrumento de
transformação e esperança.
Nossa gestão será guiada pela valorização do cordel
como arte e ferramenta de inclusão, com ações que buscam ampliar seus
horizontes e preservar sua essência. Entre nossas propostas, destaco:
- Formação
e Capacitação –
Oferecer oficinas e cursos para educadores e jovens talentos, formando
novas gerações de poetas.
- Atividades
Itinerantes –
Realizar encontros em diferentes regiões, levando o cordel aonde o povo
está.
- Preservação
do Patrimônio –
Criar um memorial físico e digital para eternizar a história do cordel
potiguar.
- Reconhecimento
e Valorização –
Instituir o Troféu Cordel Potiguar e lançar antologias anuais para
celebrar nossos talentos.
- Parcerias
Estratégicas –
Fortalecer vínculos com universidades e outras instituições culturais,
consolidando o espaço do cordel no cenário nacional.
6.
Promover a criação de um fórum não governamental que reúna instituições
como a ANLIC, a Comissão Norte-Riograndense do Folclore, a Academia de Trovas,
a Casa do Cordel, o Ponto de Memória Estação do Cordel, entre outras. Esse
fórum deverá articular e construir, de forma colaborativa, uma pauta
estratégica que represente os interesses e demandas do setor cultural, para ser
apresentada de maneira unificada aos gestores públicos.
7.
Lutaremos incansavelmente por
mais investimentos na cultura do nosso estado, pois não podemos nos calar
diante dos atrasos no pagamento dos RPV destinados aos mestres e espaços
culturais, responsabilidade que o governo insiste em negligenciar. É
inadmissível aceitar o abandono dos equipamentos culturais públicos; nossa luta
é por ocupá-los e revitalizá-los, devolvendo à sociedade espaços de arte e
convivência.
8.
Rejeitamos, com veemência, a
dependência das chamadas "emendas pix" dos parlamentares, que buscam
transformar os movimentos culturais em meros currais eleitorais. Nosso
compromisso é com uma cultura livre, autônoma e acessível, onde a arte seja
reconhecida e valorizada como um direito de todos e não como moeda de troca
política.
Convido cada um de vocês a caminhar ao nosso lado.
Que os versos do cordel sejam nosso estandarte e que a poesia seja nossa
espada, abrindo caminhos para um futuro onde nossa arte ocupe o lugar de
destaque que merece. Unidos, faremos do cordel uma bandeira de luta, de cultura
e de liberdade.
Reafirmo, com a força dos versos e a coragem dos
poetas, meu compromisso com o presente e o futuro do cordel. Viva o cordel
brasileiro! Viva a cultura popular! Natal, 13 de dezembro
de 2024.